Chico Xavier
Chico Xavier
Brasil, 2010 - 125 min
Drama
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Marcos Bernstein
Produção: Daniel Filho
Adorado pelo público brasileiro, o cineasta Daniel Filho (Se Eu Fosse Você 2) está no auge de sua carreira. Ninguém melhor do que ele para receber o desafio de dirigir e produzir a cinebiografia Chico Xavier, filme que é lançado no ano de centenário do grande médium. É muita responsabilidade, principalmente para escolher a abordagem do filme, devido a curiosidade dos espectadores e a todos os tabus que envolvem o espiritismo.
Durante o filme, acompanhamos Chico Xavier de duas formas intercaladas: quando o médium foi convidado a participar do programa Pinga-Fogo da TV Tupi do dia 28 de julho de 1971 - edição esta que foi um marco na televisão brasileira devido a toda a polêmica envolvida; e desde sua infância, quando não sabia o que eram os casos estranhos e sobrenaturais que lhe rondavam, até a sua fase adulta, quando fundou o seu primeiro Centro Espírita. Junto com a parte mais atual da história, nos é apresentado o drama de um casal que teve seu filho supostamente assassinado pelo melhor amigo, mas este jura que foi um acidente.
Chico Xavier é uma adaptação de As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior. Como já foi dito antes, a história vai e volta, cronologicamente falando. Mérito para o roteirista, que consegue realizá-lo de forma clara e sem enrolações. O roteiro também honra o texto inicial do filme, que informa que foram escolhidos os momentos mais importantes de Francisco para serem mostrados, pois seria impossível mostrar tudo que era importante. A escolha das passagens é perfeita, com as dosagens corretas de drama e humor, tudo com grande compromisso para com a realidade, o que pode ser comprovado no créditos, quando imagens reais do programa Pinga-Fogo são exibidas.
A escolha de elenco não poderia ser melhor. Matheus Costa (Muito Gelo e Dois Dedos D'Água), Ângelo Antônio (2 Filhos de Francisco) e Nelson Xavier (Narradores de Javé) interpetam Chico na infância, fase adulta e terceira idade (ou quase isso), respectivamente. Todos três fazem um trabalho excelente, com destaque para os dois últimos, que conseguem adquirir uma semelhança muito grande com o personagem no modo de agir. Sem dúvida, Ângelo Antônio foi quem ficou com o maior desafio que, sem dúvida, foi superado: conseguir fazer uma grande interpretação do médium, mesmo sem possuir semelhanças físicas consideráveis. O contrário ocorre com Nelson Xavier, que tem aparência, voz e presença que se confundem com Cândido Xavier quando o ator está interpretando o personagem. O intéprete hesitou em aceitar a proposta de atuar no filme por um tempo, devido à sua crença agnóstica, mas acabou entrando no projeto, e sempre se emociona quando se toca no assunto, pois diz que o filme mudou totalmente a sua visão de Deus.
No outro núcleo do filme, temos Tony Ramos (Se Eu Fosse Você 2) e Christiane Torloni (Onde Andará Dulce Veiga?) que, como sempre, fizeram uma interpretação belíssima. Uma das cenas mais marcantes do filme é realizada pelos dois, onde seus personagens leem uma psicografia do próprio Chico Xavier.
Grande parte do mérito do filme vai para o diretor e produtor do filme Daniel Filho, que sempre agradou ao público, mas só com seus últimos projetos tem conseguido "amansar" a crítica. Além da qualidade de grande parte de seus filmes, a quantidade de produções em que Daniel Filho está e esteve envolvido é incomparável, a nível de Brasil. Com Chico Xavier, o diretor mostrou de que modo devem ser mostrados ao públicos temas polêmicos como religião: de forma imparcial. O espiritismo não se torna, em nenhum momento, o centro do filme. Tudo o que observamos é mostrado através da visão e dos relatos do próprio Chico e de fatos, ou seja, verdades. O saudoso Francisco Cândido Xavier apresentado é, antes de médium e espírita, um homem dedicado à compaixão e à caridade.
Chico Xavier é tudo aquilo que Lula - O Filho do Brasil deveria ter sido e não foi: um sucesso de bilheteria, uma obra cinematográfica com uma excelente qualidade técnica, uma história apresentada de forma aberta, fiel à realidade e um grande acréscimo ao cinema brasileiro.
Com o centenário de Chico Xavier, podemos esperar para 2010 mais uma aparição de Nelson Xavier como Cândido no cearense As Mães de Chico Xavier (Glauber Rocha) e mais uma superprodução brasileira e espírita, Nosso Lar (Wagner de Assis). Para os curiosos e simpatizantes, resta torcer e esperar.