segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Por Juliano Gadelha


Tropa de Elite 2

Brasil , 2010 - 116 min
Ação / Drama

Direção:
José Padilha

Roteiro:
José Padilha, Bráulio Mantovani

Elenco:
Wagner Moura, André Ramiro, Maria Ribeiro, Pedro Van Held, Irandhir Santos, Seu Jorge, Milhem Cortaz, Fernanda Machado, Tainá Müller

Fazer seqüências de filmes de sucesso é sempre um grande risco. Se você tem uma boa história para contar, a tendência é que saia um bom segundo filme. Caso contrário, acaba saindo um filme forçado e desagradável, comprometendo até a obra-prima. O fato é que a mentalidade da indústria do cinema só enxerga as cifras que uma seqüência pode gerar. Se o filme é bom ou ruim não importa. Exemplos não faltam. A série Resident Evil, que já conta com quatro filmes, é um verdadeiro fracasso de enredo, mas continua gerando muitos lucros, então os filmes não param de lançar. Esse ano mesmo tivemos Shrek Para Sempre, um grande exemplo de continuação desnecessária para uma franquia tão boa.
Em termos de Brasil, seqüências são raríssimas. O curto orçamento de nossa já frágil indústria não pode suportar esse risco. Mas isso tem mudado. Filmes de grande sucesso nacional têm tido continuações, como um investimento na expectativa de grande retorno. E não têm decepcionado, como Se Eu Fosse Você 2, grande sucesso de bilheterias. Agora é a vez de Tropa de Elite, filme que deu o que falar em 2007, ganhar sua continuação.
O primeiro Tropa de Elite teve na pirataria sua grande campanha de marketing, o que não impediu que se saísse bem nas bilheterias. O filme levantou grandes polêmicas acerca da polícia, do tráfico de drogas, e de diversas hipocrisias da sociedade brasileira. Tratou de diversos lugares-comuns do nosso cotidiano e da nossa cultura, mas de uma maneira diferente, por uma visão mais crua, e, conseqüentemente, chocante. A verdade é que foi um grande filme, um dos melhores já realizados no Brasil. Mas quando confirmaram que haveria seqüência, impossível não ficar com aquela pulguinha atrás da orelha. Não seria melhor parar por ali, depois do sucesso, das premiações, não seria melhor deixar como estava? Hoje posso responder: não, não seria.
Tropa de Elite 2 mostra um grande amadurecimento da franquia e do trabalho de seus realizadores, em vários sentidos. A fotografia, um dos destaques do primeiro, pelo clima sombrio que proporcionou ao filme, nesse está mais branda, em tons mais claros, mas igualmente impecável, graças ao talento de Lula Carvalho. Também merece destaque a seleção e preparação de elenco, em que mais uma vez Fátima Toledo pôde utilizar o seu polêmico mas eficaz método de "destruir atores". Os resultados são impressionantes. Nos dois Tropas não se vê nada daquelas interpretações novelescas ultradramáticas que insistem em se infiltrar no cinema brasileiro, comprometando, e muito, a verossimilhança dos diálogos. Wagner Moura, não é surpresa, está sensacional. Mostra mais uma vez que é um dos melhores atores do Brasil, e a sua entrega ao personagem é admirável. Fora ele, o filme está cheio de atuações dignas de nota, como o retorno de André Ramiro e Milhem Cortaz, o talentosíssimo Irandhir Santos e o hilário André Mattos. Mas Sandro Rocha, interpretando o Major Rocha, que nesse filme ganhou bastante importância, merece um destaque especial. Ele fez um vilão tão convincente que fica difícil dissociar sua imagem da dele. O público no cinema, tal qual os espectadores no Coliseu na Roma Antiga, pediam a cabeça daquele sujeito perverso, tal era a fúria e o desprezo que ele despertava.
O enredo também evolui, e aprofunda as problemáticas do primeiro. Como diz o subtítulo, "o inimigo agora é outro". Na verdade, o agora Tenente-Coronel Nascimento descobrirá quem são seus verdadeiros inimigos, como ele próprio diz. Dez anos depois, ele está com 40 anos, divorciado e com um filho adolescente. Ele continua no BOPE, mas seu trabalho não envolve confronto direto, ele apenas comanda. Entretanto, um incidente na penitenciária de Bangu I acaba mudando sua vida, e ele acaba se tornando Subsecretário de Segurança, assumindo funções burocráticas que são totalmente aversas ao seu estilo. Mesmo assim, Nascimento se adapta a esse novo meio, e encontra maneiras de combater o tráfico, através do fortalecimento do BOPE. Mas é nesse momento que ele descobre que a grande sujeira se encontra mais em cima, e os criminosos que ele vai enfrentar agora não podem ser derrotados nem com os mais avançados armamentos. Agora ele dá de frente com "o sistema". Fora isso, ele lida com o desafio de se aproximar de seu filho, e de ter um vida normal mesmo dentro da profissão que escolheu exercer.
Em seu fim de semana de estréia, Tropa de Elite 2 já levou cerca de 1,25 milhão de pessoas ao cinema, sendo a quinta maior abertura de todos os tempos nas bilheterias brasileiras, e deixando para trás grandes blockbusters americanos. Em se tratando de filmes brasileiros, Tropa 2 tem mais que o dobro do segundo colocado, Chico Xavier. É a maior abertura do ano no Brasil, superando A Saga Crepúsculo: Eclipse.
Além de um excelente filme, Tropa de Elite 2 é um estímulo às seqüências (às boas), e ao cinema brasileiro visto como investimento. É resultado do trabalho de pessoas que apostam no apuro técnico, no bom preparo dos atores, e no talento, é claro. Não sei se haverá um Tropa de Elite 3 ou algo do tipo, só espero que José Padilha, Wagner Moura e companhia continuem acreditando e insvestindo seu trabalho em nosso cinema, pois assim continuaremos colhendo belos frutos.

 
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