domingo, 19 de dezembro de 2010

A Rede Social

Por Juliano Gadelha



A Rede Social


The Social Network

EUA , 2010 - 120 minutos
Drama

Direção:
David Fincher

Roteiro:
Aaron Sorkin, Ben Mezrich (livro)

Elenco:
Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Rooney Mara, Max Minghella, Rashida Jone


A internet finalmente chegou ao cinema como tema central. Mas A Rede Social também pode ser visto como um filme que conta a história de um grande empreendedor, como O Povo Contra Larry Flint e Cidadão Kane. A diferença é que, ao contrário desses filmes, o empreendedor em questão era um universitário de apenas 19 anos quando deu origem à sua grande criação. Estamos falando de Mark Zuckerberg e do Facebook.
Logo no início do filme, o jeito peculiar de Zuckerberg (Jesse Eisenberg) nos é apresentado. Sua fala rápida, seus trejeitos meio mecânicos, e sua visão lógica sobre os relacionamentos dentro da Universidade. É um autêntico exemplar do Sheldon, do sitcom The Big Bang Theory, mas sem caricaturização. Ao contrário de Sheldon, entretanto, Zuckerberg preocupa-se em se integrar socialmente. No diálogo inicial, ele discute com a namorada Erica (Rooney Mara) um meio de ganhar popularidade no campus. Essa busca de integração é a faísca inicial de sua grande criação. Sincero a ponto de ser insensível e estúpido, Zuckerberg acaba transformando essa conversa em uma discussão, e daí surge um dos rompimentos mais estranhos do cinema. A importância dessa cena está em fazer o espectador conhecer o protagonista, sua dificuldade em se relacionar e sua falta de tato, características que terão influência no seguimento do enredo. Mas ele tem amigos. Bem, pelo menos um bom amigo, Eduardo Saverin (Andrew Garfield), que ainda jovem mostrava levar jeito para os negócios, e que era conhecido em Harvard por seus investimentos no ramo do petróleo. Quando Zuckerberg quer por em prática a ideia do Facebook, Saverin entra com o investimento de mil dólares, sendo co-fundador e assumindo o papel de gestor de negócios. Mas os dois mostram visões bem diferentes sobre o futuro do Facebook. Além disso, o interesse de Sean Parker (Justin Timberlake), fundador do Napster, na nova criação acaba afastando ainda mais os dois amigos. Paralelamente, Zuckerberg é acusado de ter roubado a ideia do Facebook dos gêmeos Winklevoss (ambos interpretados por Armie Hammer) e de Divya Narendra (Max Minghella). Zuckerberg consegue a popularidade que queria e muito mais, mas agora tem seu caráter e sua amizade postos à prova.
O excelente enredo é baseado no livro Bilionários por acaso: A Criação do Facebook, de Ben Mezrich. É até impressionante que uma trama de tanta qualidade e apelo tenha saído de um livro de não-ficção. Mas quanto a isso é preciso ter muito cuidado: por mais que falem que A Rede Social é baseado em fatos reais, é preciso se atentar ao fato de que Eduardo Saverin foi um consultor do livro de Mezrich, enquanto Zuckerberg se negou. Portanto, aos mais revoltados que saíram do cinema praguejando contra Mark Zuckerberg, e com pena de Eduardo Saverin, vamos com calma. O que o filme mostra é uma dramatização dos fatos, que pode representar apenas uma versão da história, e que não deve ser interpretada ao pé da letra. Sua função é servir aos fins cinematográficos, e esse objetivo é alcançado com excelência, pois, como se disse, a trama é muito boa e sua adaptação para o cinema foi muito bem feita, mérito do roteirista Aaron Sorkin.
David Fincher reitera mais uma vez seu talento, e é hoje um dos diretores mais competentes de Hollywood. Sua lista de trabalhos é de dar inveja: Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, O Curioso Caso de Benjamin Button, entre outros. Fincher é moderno e tem a capacidade de fazer filmes agradáveis de assistir, e que por conseguinte fazem sucesso com o público, mas que também são aclamados pela crítica. Discreto e sempre com bons enredos, ele sabe prender a atenção sem ser espalhafatoso.
O filme conta com um elenco jovem e talentoso. Jesse Eisenberg, já bastante elogiado por seu trabalho em Zumbilândia, encarna Zuckerberg com uma naturalidade impressionante. Apesar da complexidade do papel , ele não deixa a peteca cair. Andrew Garfield rouba a cena como Eduardo Saverin. Os fãs de Homem-Aranha que olharam torto para ele quando foi escolhido para o papel de Peter Parker deve estar mais esperançosos depois de ver esse filme. Até Justin Timberlake se saiu bem. Tudo bem, Sean Parker é a cara dele, mas ele mostrou que leva jeito. Por fim, Armie Hammer, candidato a Superman, mostrou ser muito talentoso no papel duplo dos gêmeos Winklevoss. Ele conseguiu separar muito bem os dois personagens pela diferença de temperamento, o que é muito difícil em se tratando de gêmeos.
A Rede Social é um filme que inevitavelmente vai mexer com os valores das pessoas, com suas concepções de certo e errado e com seu poder de julgamento. O filme derruba a hipocrisia ao apresentar a história nua e crua sem escolher herois e vilões. As pessoas fazem coisas boas e ruins, e os acontecimentos vão se sucedendo. Cabe a cada um interpretar o que acontece como melhor lhe aprouver. Assim ocorre na vida.
A grande satisfação que esse filme traz é saber que o que acontece de verdade no nosso mundo ainda pode render histórias tão boas, de tanta qualidade que mais parecem ter saído da mente de um roteirista especializado em tramas conspiratórias. Quem espera uma bela cinebiografia vai ficar bastante decepcionado. Mas quem estiver esperando originalidade e um enredo bastante dinâmico, vai sair mais do que satisfeito do cinema.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

Por Juliano Gadelha



Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 1
EUA / Inglaterra , 2010 - 146 min.
Drama / Fantasia / Suspense

Direção: David Yates

Roteiro: Steve Kloves

Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter, Bill Nighy, Richard Griffiths, Harry Melling, Julie Walters, Bonnie Wright, Fiona Shaw, Alan Rickman, Carolyn Pickles, Toby Jones, Robbie Coltrane, Brendan Gleeson, James Phelps, Oliver Phelps, Mark Williams, George Harris, Andy Linden, Mundungus Fletcher, Domhnall Gleeson, Clémence Poésy, Natalia Tena, Evanna Lynch, Rhys Ifans, Matthew Lewis, David Thewlis, John Hurt

Nove anos se passaram desde o lançamento de Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro da mais lucrativa série cinematográfica da história. Como toda adaptação de livro para o cinema, os filmes não agradaram a todos, e aliás, desagradaram a muitos, especialmente aos fãs. Sempre ficava aquela pergunta: porque os filmes de Harry Potter não saem tão bons quanto os de O Senhor dos Anéis? Mesmo nos melhores filmes da saga, parecia que faltava alguma coisa. Ainda assim, o sétimo filme, Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, o início do fim, veio prometendo mudar essa história. Será que conseguiu?
No penúltimo episódio da saga de Harry, o enredo é bem singular em relação aos anteriores. Para começar, nada de Hogwarts. Harry (Daniel Radcliffe) não volta à escola que frequentou durante seis anos e que durante esse tempo considerou seu verdadeiro lar. Agora ele enfrenta o "mundo real" e se vê cada vez mais exposto e indefeso enquanto o poder de Lord Voldemort (Ralph Fiennes) não para de crescer. O cerco se fecha em torno dele e de seus fiéis amigos Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson), e também de todos aqueles que o tomaram como estandarte na guerra contra "aquele-que-não-deve-ser-nomeado". "Harry é a única esperança que temos. Confiem nele". E parece que toda essa responsabilidade, que durante muito tempo lhe foi um peso inconveniente, agora já é aceita naturalmente por Harry, apesar de muitas vezes ele simplesmente não saber o que deve fazer. Toda essa mudança em relação aos outros filmes é o tão aguardado clímax final da série. Na verdade, se trata ainda de um pré-clímax, pois a parte 1 está, do início ao fim, nos preparando para parte 2.
Desde o Prisioneiro de Azkaban, a crítica (fomentada pelo marketing dos filmes, diga-se de passagem) tem divulgado um "Harry Potter mais sombrio", usando manchetes como "Harry não é mais criança" ou "o bruxinho cresceu", como se a série inteira devesse se ater ao clima mais infantil dos primeiros filmes. O tempo passou e tais manchetes se repetiam filme após filme. Mas sombrio de verdade é esse sétimo filme. Harry, Rony e Hermione nunca enfrentaram perigos tão intensos e nunca vivenciaram situações tão críticas como agora. Eles estão sendo postos à prova como pessoas, como bruxos e como amigos.
Entretanto, esse clima sombrio poderia ter sido intensificado. A conjuntura pede isso, o momento pede isso. Em algumas cenas, quando se espera uma explosão dramática dos personagens, o máximo que se tem é um silêncio constrangedor, um rosto vazio, olhares para o nada. Mais do mesmo. Isso já foi visto, e bastante, nos anteriores. Esse filme teve a oportunidade de se destacar ainda mais dos outros. Faltou radicalizar um pouco, explorar a emoção dos atores, fazer cenas realmente à flor da pele. Às vezes isso ocorre por deficiência do ator, mas muitas vezes é falha no roteiro mesmo, que não exige deles um pouco mais na cena. Oportunidades não faltaram. Ao longo do filme, várias cenas poderiam ter sido mais bem exploradas visando dar ao filme um ar de verdadeiro filme de drama.
Há, é claro, momentos emocionantes, mas também há momentos bobos, tolos demais para pertencer a um filme de teor dramático tão profundo. Assim como em A Ordem da Fênix e O Enigma do Príncipe, também de David Yates, há muitas cenas de humor forçado, neste menos que nos outros, mas que destoam ainda mais devido à constante sensação de perigo que abate os personagens.
O filme começa bastante corrido. A primeira hora segue um ritmo alucinante, até atropelado, deixando algumas passagens mal explicadas ou mesmo sem explicação. Quem não leu o livro vai ficar um pouco perdido. Depois, o filme dá uma enorme desacelerada e começa a se arrastar, sem lutas, sem cenas exaltadas. Os personagens analisam sua situação e pensam no que virá a seguir. Muitos vão considerar essa parte do filme bastante chata. Mas ela foi, na verdade, muito benéfica para o filme, pois conseguiu captar perfeitamente o momento pelo qual os personagens estavam passando. Nessa fase, há uma cena bastante interessante. Ouvimos o rádio, e o locutor lista os nomes dos desaparecidos, enquanto acompanhamos os três amigos perambulando, aparatando e desaparatando de um lugar para o outro, meio perdidos, sem saber para onde ir. Quem vê essa cena isolada nunca imaginará que se trata de um filme de Harry Potter. Mais parece um filme de guerra em que as pessoas aguardam, ansiosas, notícias de seus familiares. Essa é a intenção, e o resultado foi ótimo. Depois dessa pausa, o filme volta a ganhar ritmo, e o suspense e a ação tomam conta até o momento final.
Essa continuação sofre por erros cometidos nos anteriores. Muitos fatos importantes foram deixados de lado nos outros filmes, e tiveram de ser colocados às pressas neste, que já está abarrotado de informações. Mais uma vez quem não leu o livro vai ficar um pouco perdido. O prejuízo foi inevitável, mas a desgraça era anunciada. É claro que muita coisa ainda pode ser explicada na parte 2. Aliás, muito tem de ser explicado na parte 2, do contrário o filme estaria apenas soltando informações à toa sem maiores cuidados com a verossimilhança e com alógica do enredo. Aguardemos.
A atuação do trio de protagonistas não tem nada de novo. Daniel Radcliffe, como sempre, está apenas razoável. Mas, mesmo assim, o personagem parece estar tão intimamente ligado a ele, que seja lá o que o ator faça, ele parece bastante convincente como Harry. Rupert Grint é um pouco melhor que ele, e aparenta levar mais jeito como ator. Emma Watson já provou ser melhor que os dois, e, apesar de estar presa aos cacoetes da sua personagem, tem uma carreira promissora. Destaque para as curtas mas sempre valiosas participações de Ralph Fiennes, Alan Rickman, Jason Isaacs e Helena Bonham Carter.
A parte visual, como de costume, está impecável. O elfo doméstico Monstro está excelente, apesar de ter havido um certo retrocesso com relação a Dobby, comparado com o de Harry Potter e a Câmara Secreta. Destaque também para a excelente animação do "Conto dos Três Irmãos". A fotografia ficou a cargo do competentíssimo Eduardo Serra, que não decepcionou. Faltou um pouco de força e vigor à trilha sonora de Alexandre Desplat, e os famosos temas de John Williams fizeram falta. A boa notícia é que o compositor norte-americano retorna na parte 2.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 segue a tradição da série de faturar alto. Foram cerca de US$ 330 milhões no fim de semana de estréia ao redor do mundo, recorde da franquia. Mas o filme, em si, rompe com os outros em questão de estilo. Inevitável, pois a trama exige esse rompimento. Mas percebe-se uma certa resistência com relação a essa mudança natural, uma tentativa de incluir elementos dos anteriores nesse, o que foi bastante prejudicial. Mas isso não macula por completo o filme, que ainda assim é um dos melhores da série, graças à riqueza da trama, tão intensa e profunda, créditos que devem ser dados à obra que serviu de inspiração. Entretanto, permanece o sentimento de que Harry Potter pode mostrar mais nos cinemas. O sonho dos fãs de ver essa obra-prima da literatura transformada em uma obra-prima do cinema ainda não acabou. Resta uma chance. Será que agora vai?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Por Juliano Gadelha


Tropa de Elite 2

Brasil , 2010 - 116 min
Ação / Drama

Direção:
José Padilha

Roteiro:
José Padilha, Bráulio Mantovani

Elenco:
Wagner Moura, André Ramiro, Maria Ribeiro, Pedro Van Held, Irandhir Santos, Seu Jorge, Milhem Cortaz, Fernanda Machado, Tainá Müller

Fazer seqüências de filmes de sucesso é sempre um grande risco. Se você tem uma boa história para contar, a tendência é que saia um bom segundo filme. Caso contrário, acaba saindo um filme forçado e desagradável, comprometendo até a obra-prima. O fato é que a mentalidade da indústria do cinema só enxerga as cifras que uma seqüência pode gerar. Se o filme é bom ou ruim não importa. Exemplos não faltam. A série Resident Evil, que já conta com quatro filmes, é um verdadeiro fracasso de enredo, mas continua gerando muitos lucros, então os filmes não param de lançar. Esse ano mesmo tivemos Shrek Para Sempre, um grande exemplo de continuação desnecessária para uma franquia tão boa.
Em termos de Brasil, seqüências são raríssimas. O curto orçamento de nossa já frágil indústria não pode suportar esse risco. Mas isso tem mudado. Filmes de grande sucesso nacional têm tido continuações, como um investimento na expectativa de grande retorno. E não têm decepcionado, como Se Eu Fosse Você 2, grande sucesso de bilheterias. Agora é a vez de Tropa de Elite, filme que deu o que falar em 2007, ganhar sua continuação.
O primeiro Tropa de Elite teve na pirataria sua grande campanha de marketing, o que não impediu que se saísse bem nas bilheterias. O filme levantou grandes polêmicas acerca da polícia, do tráfico de drogas, e de diversas hipocrisias da sociedade brasileira. Tratou de diversos lugares-comuns do nosso cotidiano e da nossa cultura, mas de uma maneira diferente, por uma visão mais crua, e, conseqüentemente, chocante. A verdade é que foi um grande filme, um dos melhores já realizados no Brasil. Mas quando confirmaram que haveria seqüência, impossível não ficar com aquela pulguinha atrás da orelha. Não seria melhor parar por ali, depois do sucesso, das premiações, não seria melhor deixar como estava? Hoje posso responder: não, não seria.
Tropa de Elite 2 mostra um grande amadurecimento da franquia e do trabalho de seus realizadores, em vários sentidos. A fotografia, um dos destaques do primeiro, pelo clima sombrio que proporcionou ao filme, nesse está mais branda, em tons mais claros, mas igualmente impecável, graças ao talento de Lula Carvalho. Também merece destaque a seleção e preparação de elenco, em que mais uma vez Fátima Toledo pôde utilizar o seu polêmico mas eficaz método de "destruir atores". Os resultados são impressionantes. Nos dois Tropas não se vê nada daquelas interpretações novelescas ultradramáticas que insistem em se infiltrar no cinema brasileiro, comprometando, e muito, a verossimilhança dos diálogos. Wagner Moura, não é surpresa, está sensacional. Mostra mais uma vez que é um dos melhores atores do Brasil, e a sua entrega ao personagem é admirável. Fora ele, o filme está cheio de atuações dignas de nota, como o retorno de André Ramiro e Milhem Cortaz, o talentosíssimo Irandhir Santos e o hilário André Mattos. Mas Sandro Rocha, interpretando o Major Rocha, que nesse filme ganhou bastante importância, merece um destaque especial. Ele fez um vilão tão convincente que fica difícil dissociar sua imagem da dele. O público no cinema, tal qual os espectadores no Coliseu na Roma Antiga, pediam a cabeça daquele sujeito perverso, tal era a fúria e o desprezo que ele despertava.
O enredo também evolui, e aprofunda as problemáticas do primeiro. Como diz o subtítulo, "o inimigo agora é outro". Na verdade, o agora Tenente-Coronel Nascimento descobrirá quem são seus verdadeiros inimigos, como ele próprio diz. Dez anos depois, ele está com 40 anos, divorciado e com um filho adolescente. Ele continua no BOPE, mas seu trabalho não envolve confronto direto, ele apenas comanda. Entretanto, um incidente na penitenciária de Bangu I acaba mudando sua vida, e ele acaba se tornando Subsecretário de Segurança, assumindo funções burocráticas que são totalmente aversas ao seu estilo. Mesmo assim, Nascimento se adapta a esse novo meio, e encontra maneiras de combater o tráfico, através do fortalecimento do BOPE. Mas é nesse momento que ele descobre que a grande sujeira se encontra mais em cima, e os criminosos que ele vai enfrentar agora não podem ser derrotados nem com os mais avançados armamentos. Agora ele dá de frente com "o sistema". Fora isso, ele lida com o desafio de se aproximar de seu filho, e de ter um vida normal mesmo dentro da profissão que escolheu exercer.
Em seu fim de semana de estréia, Tropa de Elite 2 já levou cerca de 1,25 milhão de pessoas ao cinema, sendo a quinta maior abertura de todos os tempos nas bilheterias brasileiras, e deixando para trás grandes blockbusters americanos. Em se tratando de filmes brasileiros, Tropa 2 tem mais que o dobro do segundo colocado, Chico Xavier. É a maior abertura do ano no Brasil, superando A Saga Crepúsculo: Eclipse.
Além de um excelente filme, Tropa de Elite 2 é um estímulo às seqüências (às boas), e ao cinema brasileiro visto como investimento. É resultado do trabalho de pessoas que apostam no apuro técnico, no bom preparo dos atores, e no talento, é claro. Não sei se haverá um Tropa de Elite 3 ou algo do tipo, só espero que José Padilha, Wagner Moura e companhia continuem acreditando e insvestindo seu trabalho em nosso cinema, pois assim continuaremos colhendo belos frutos.

domingo, 19 de setembro de 2010

Nosso Lar


Nosso Lar

Brasil , 2010 - 102 min.
Drama

Direção:
Wagner de Assis

Roteiro:
Wagner de Assis

Elenco:
Renato Prieto, Fernando Alves Pinto, Rosanne Mulholland, Inez Viana, Rodrigo dos Santos, Werner Schünemann, Clemente Viscaíno, Othon Bastos, Ana Rosa, Paulo Goulart


A histórias que envolvem religião sempre atraíram muito as pessoas aqui no Brasil. O espiritismo parece ser a temática que mais desperta curiosidade. E não é de hoje. Primeiro foram as novelas, como A Viagem, O Profeta, e até mesmo agora com Escrito nas Estrelas. De uns anos para cá, essa tendência chegou ao cinema, se mostrando uma excelente forma de arrastar muita gente para as salas. Em 2008, Bezerra de Menezes, e esse ano Chico Xavier e Nosso Lar. Espíritas convictos ou apenas curiosos ou simpatizantes, as pessoas vão ao cinema para ver essas histórias.
Nosso Lar baseia-se na obra homônima de Chico Xavier, a primeira da coleção A Vida no Mundo Espiritual, composta pelas histórias atribuídas a André Luiz. André (Renato Prieto) era um médico brasileiro da década de 20, um homem sério e solene, como muitos de sua época, que trabalhava muito, e pouco tempo tinha para sua família. Apesar de atender a alguns pacientes com má vontade, todos o consideravam um bom homem, inclusive ele próprio. Até que, de repente, a morte lhe acometeu, e ele se deu conta de que a realidade era diferente. Ele foi parar em um Umbral, um local de dor e sofrimento, onde pôde refletir sobre suas atitudes em vida, e perceber que não agira de acordo com a Vontade Divina. O arrependimento o salva, e ele é levado à colônia de Nosso Lar. Lá ele se regenera, e se depara com uma realidade que jamais imaginou. Encontra uma espécie de mundo futurístico, mas onde as coisas que têm valor na Terra pouco importam. Suas habilidades e seu status de médico de nada servem. Só as atitudes, como a bondade e a compaixão, têm importância. André Luiz percebe que não é o bom homem que achava, e que tem muito a melhorar ainda.
Logo de cara, chama a atenção a beleza visual do filme. O nível de efeitos visuais e fotografia é inédito no Brasil. É, mas essa parte ficou a cargo dos gringos. O suíço Ueli Steiger, que também trabalho em 10,000 a.C. e em O Dia Depois de Amanhã, é o diretor de fotografia. Os efeitos foram desenvolvidos pela Intelligent Creatures, responsável também por filmes como Watchmen, Babel e Sr. & Sra. Smith. A trilha sonora é do compositor americano Phillip Glass. Essa qualidade sem precedentes custou caro. O filme teve orçamento de R$ 20 milhões, recorde no país. É o preço do cinema bem feito.
O elenco traz atores famosos da TV e do cinema, como Othon Bastos, Paulo Goulart e a recordista de novelas Ana Rosa, e também atores menos conhecidos, como Fernando Alves Pinto, o grande destaque do filme no papel de Lísias. Curiosamente, Renato Prieto, que interpreta o protagonista, é um dos menos experientes no cinema. Sua carreira é mais voltada para o teatro, tendo ele já encenado a peça Nosso Lar. Às atuações cabe uma crítica que vale para o cinema brasileiro em geral. Nós ainda temos um padrão de atuação muito teatralístico no cinema, quando deveríamos ter um modelo independente. A tragicomédia do teatro leva ao extremo dramático as emoções, e passar isso para o cinema é muito prejudicial. E não só no teatro, mas nas novelas também acontece assim. O cinema exige muito mais correspondência com a realidade do que o teatro. Portanto, levar a atuação teatral para o cinema deixa transparecer a inadequação e o exagero. Necessário, pois, desgarrar-se a atuação cinematográfica da teatral. Esse movimento já começou em filmes como Central do Brasil, Cidade de Deus e Tropa de Elite, em que a naturalidade dos atores melhora vertiginosamente a qualidade do filme. Não por coincidência, esses são três dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos.
O enredo é muito bem explorado. O diretor e roteirista Wagner de Assis conseguiu contar a história de maneira agradável e acessível até aos menos entendidos do assunto, o que é a grande preocupação nesse tipo de filme, ou seja, alcançar todos os públicos. Não cometeu os erros de Bezerra de Menezes, por exemplo, que mesmo tendo uma boa história em mãos, não passou de um roteiro confuso e entediante.
O filme tem sido arrasador nas bilheterias. Com menos de duas semanas em cartaz já havia arrecadado cerca de R$ 16 milhões, pouco menos que o aclamado A Origem, que já está há seis semanas em cartaz no Brasil. No ano, o filme só está atrás de Chico Xavier entre as produções nacionais, e a tendência é que logo cubra o seu orçamento recorde. O sucesso com o público também é mostrado na enquete do Ministério da Cultura para o Oscar 2011. Concorrendo com mais de 20 filmes, Nosso Lar tem cerca de 73% dos votos.
Nosso Lar é uma bela realização nacional. Quebrou barreiras e surpreendeu muita gente. Passa uma bela mensagem ao espectador, independentemente de sua crença, pois a história de vida (e morte) apresentada é uma lição para qualquer um. E é muito bom ver um filme brasileiro de tão boa qualidade, comparável a alguns filmes hollywoodianos (o "além" de Nosso Lar é bem melhor que o de Amor Além da Vida). Esperamos que esse seja o primeiro de muitos, e que cada vez mais os filmes daqui passem a prezar pela parte técnica, pois nossos profissionais já mostraram em produções anteriores a qualidade de seu trabalho. Que assim seja.

domingo, 5 de setembro de 2010

Parabéns, CineMatuto!


Pois é, hoje o CineMatuto completa 2 anos de vida! Tem sido uma experiência maravilhosa para nós do blog e espero que também para os que nos acompanham. Só temos a agradecer a vocês, que participam e nos ajudam a melhorar sempre. Agradecemos também aos nossos parceiros da blogosfera, loucos por cinema como nós: Polêmica Filmes, Cenas de Cinema, Cova do Urso e Cinestesia. E um agradecimento especial ao nosso amigo Diego Cavalcante, criador do nosso logotipo.
Nosso blog é tão novo, e já nos proporcionou tantos bons momentos. Desejamos que muitos mais venham pela frente, e convidamos todos os amantes do cinema para seguirem nessa jornada conosco.

Muito obrigado!

Juliano Gadêlha

sábado, 28 de agosto de 2010

A Origem


A Origem

Inception
EUA / Reino Unido , 2010 - 148 minutos
Ficção científica / Suspense

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan

Elenco: Leonardo DiCaprio, Ellen Page, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ken Watanabe, Tom Hardy, Cillian Murphy, Tom Berenger, Dileep Rao, Michael Caine, Lukas Haas, Pete Postlethwaite

Depois de resgatar o Batman das profundezas cinematográficas e fazer um dos melhores filmes da década, Christopher Nolan virou sinônimo de eficiência em Hollywood. Essa é uma das razões que explicam o fato de A Origem ter sido tão aguardado. Outra é que o protagonista é Leonardo DiCaprio. E outra é o roteiro audacioso e instigante. Seja qual foi a razão que fez você ir ao cinema, provavelmente você saiu de lá, no mínimo, satisfeito com o que viu.
DiCaprio é Dom Cobb, o melhor ladrão do mundo no que diz respeito a surrupiar segredos do subconsciente das pessoas, ou seja, invadir seus sonhos para extrair informações valiosas sem que elas se deem conta. Graças ao seu talento, Cobb virou um fugitivo internacional e foi obrigado a viver afastado de seus filhos. A chance de ter de volta sua vida surge em um último e quase impossível trabalho: dessa vez, ele não deve roubar, mas implantar uma informação na "origem", fazendo com que a pessoa ache que pensou naquilo por si mesmo. Ele forma uma equipe com os melhores do mundo em cada função, mas tem como grande obstáculo a sua falecida mulher, Mal (Marion Cotillard), a qual ele não consegue afastar de sua mente, e que sempre tenta atrapalhar o cumprimento de suas missões.
O enredo exige 100% de atenção do espectador. No início, é simples, dá a base do filme, ou seja, mostra como funciona a extração das informações, e como essa técnica é utilizada em jogos de poder pelos grandes magnatas mundiais. Depois, com o desafio posto, é um momento de preparação, e a aproximação entre os personagens acaba abrindo espaço para um mergulho no drama de Cobb, que parece ser o único a ter um vida pregressa, afinal, tudo gira em torno dele, e dele tudo depende, para o bem ou para o mal. Da metade em diante, a história passa mexer mais com o raciocínio de quem assiste, pois eles vão passando de camada em camada, um sonho dentro do outro, prendendo a atenção, enquanto as peças do quebra-cabeça de Cobb vão sendo soltas aos poucos, e os mais atentos passam a perceber que o que realmente importa não é o sucesso ou fracasso daquela missão, mas a distinção entre o que é real e o que é sonho. Essa é a grande questão do filme, o que gerou infindáveis controvérsias e teorias de todo tipo entre o público. O roteirista Nolan pode dar-se por satisfeito, o objetivo foi alcançado. Ainda sobre o roteiro, deve-se notar, entretanto, a presença de uma ou outra incongruência, principalmente nas cenas de ação.
O elenco é bastante talentoso, e tem a cara de Christopher Nolan. Cillian Murphy, Ken Watanabe e principalmente Michael Caine são figurinhas carimbadas em seus filmes. DiCaprio mais uma vez mostra a regularidade de suas atuações nos últimos anos, nada superlativo, mas uma prova de seu talento para protagonista. Destaque para a primeira parceria entre o bom ator Joseph Gordon-Levitt e Christopher Nolan, que pode gerar mais bons frutos no futuro, já que fortes rumores apontam o ator como possível Charada no terceiro Batman de Nolan.
Outra grande atração do filme, que encheu os olhos de quem viu os trailers, são os efeitos visuais. A imaginação ilimitada da mente humana exige efeitos igualmente ilimitados, e o que se vê são cidades se dobrando, virando de cabeça para baixo, e também slowmotions de tirar o fôlego, além dos paradoxos, uma das boas sacadas do filme. Tudo isso marcado pela excelente fotografia de Wally Pfister, que tem cadeira cativa nos filmes de Nolan, parceria essa que já rendeu três indicações ao Oscar de Melhor Fotografia.
A Origem liderou por muito tempo as bilheterias americanas e é um grande sucesso no mundo todo, tendo o boca-a-boca como uma forte arma de marketing. Se esperava muito desse filme e pode-se dizer que ele correspondeu. Agora, deixando de lado a parte técnica, a bilheteria e a divulgação, a verdade é que a grande conquista desse filme foi arrancar aquele "OOOOOOOHHHHH" do público no filnal; foi fazer as pessoas discutirem o filme enquanto saíam da sala de cinema; foi fazê-las continuarem discutindo nas redes sociais, na internet, formulando inúmeras teorias; foi fazê-las continuarem intrigadas até agora, e com aquela vontade de assistir o filme mais uma vez para ver se não deixaram passar nada. É, o filme foi um sucesso!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Fúria de Titãs



Fúria de Titãs

Clash of the Titans
EUA/Inglaterra, 2010 - 106 min
Ação / Aventura / Fantasia / Épico

Direção: Louis Leterrier

Roteiro: Matt Manfredi, Travis Beacham, Phil Hay

Produção: Kevin De La Noy, Basil Iwanyk

Elenco: Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Mads Mikkelsen, Izabella Miko, Jason Flemyng, Hans Matheson, Vincent Regan, Gemma Arterton, Alexa Davalos

Quanto mais o tempo passa maior é o número de astros do cinema que são criados, principalmente aqueles classificados como "caras da ação", ou algo do tipo. Só que agora eles fazem menos sucesso que antigamente. Nas décadas de 80 e 90 nós tínhamos Silvester Stallone (Rambo e Rocky), Jean-Claude Van Damme (Soldado Universal e O Grande Dragão Branco), Arnold Schwarzenegger (O Exterminador do Futuro e Conan, o Bárbaro), entre muitos outros, e todos nós sabíamos quem eram. Já os novos atores dos filmes de ação não têm seus nomes tão lembrados quanto os primeiros, mas ainda assim são identificados pelo público como "aquele que fez 300" ou "aquele que fez Carga Explosiva", por exemplo. Dentre eles está Sam Worthington, aquele que fez Avatar,o grande astro do nosso filme em questão, Fúria de Titãs.
O longa é um remake do filme homônimo de 1981 e segue a mesma linha da história original. Worthington (O Exterminador do Futuro: A Salvação) intepreta o pescador Perseu que, após a morte de sua família por Hades (Ralph Fiennes), descobre ser, na verdade, um semideus filho de Zeus (Liam Neeson). Com a rebeldia dos homens para com os deuses, Zeus decide castigar os humanos através da destruição causada pelo monstro Kraken e Perseu é o escolhido para detê-lo.
E a graça da história acaba aí. Não há nenhuma surpresa ou momento um pouco mais emocionante que o todo, pois até mesmo o clímax do filme é muito sem graça. São cenas corridas demais, lutas rápidas e confusas, devido à fotografia mal-elaborada, e, quando entendíveis são óbvias demais, assim como toda a história. Fora isso, nenhum personagem nos é apresentado direito, o que faz com que todos sejam coadjuvantes (bem ao estilo Transformers: A Vingança dos Derrotados), até mesmo o próprio Perseu, que a cada cinco falas tem quatro frases de efeito ditas e Zeus, o rei do Olimpo, que cai nas pegadinhas maléficas de seu irmão Hades, senhor do submundo, que subestimam a inteligência de qualquer um.
O elenco, apesar dos grandes nomes, peca (e muito) na atuação. Começa com Sam Worthington, que não parece ser o mesmo ator que interpretou tão bem o ciborgue Marcus Wright e satisfatoriamente o fuzileiro Jake Sully. A falta de naturalidade nas falas e nas expressões, fora o personagem fraco, são as principais características do ator nesse filme. Quem também decepciona é Liam Neeson (Busca Implacável), intérprete de um Zeus não muito inteligente e bastante contraditório, o que acaba com todo o poder que o deus grego tem na mitologia. Os únicos dois atores que se salvam são Ralph Fiennes (Harry Potter e a Ordem da Fênix), que interpreta Hades, e Mads Mikkelsen (007 - Cassino Royale), na pele do mal-encarado Draco, mas ainda assim nada demais, principalmente para atores tão bons como eles. Em resumo, a produção parece ter tido uma péssima direção de atores, pois, mesmo com grandes nomes no elenco, não conseguiu nem chegar perto do que se esperava.
Como todo filme de mitologia, Fúria de Titãs necessita de bastantes efeitos especiais, desde a maquiagem até a computação gráfica. Nesse aspecto, é ponto para a equipe, pois as ambientações são maravilhosas e grande parte é natural. Outra parte é construída, mesmo que seja para ser destruída por monstros computadorizados em questão de segundos. Esta nova tendência dos cineastas - de fazer ou construir tudo aquilo que pode ser feito e usar a computação em último caso - foi seguida à risca por Leterrier (Carga Explosiva) e sua equipe de produção. O problema é quando a computação gráfica se faz necessária. Apesar de bons efeitos, é notório o contraste entre real e computação gráfica, pois os seres mitológicos criados por computador tem uma textura um pouco puxada para os desenhos, como acontece em Harry Potter e a Ordem da Fênix e Sherlock Holmes. Nas cenas de batalha com a Medusa e com o Kraken essa falha - ou estilização, não se sabe - fica bem clara.
Entediante, Fúria de Titãs é o tipo de filme que, passados os primeiros dois minutos de exibição, o espectador já sabe como vai ser o desenvolvimento e a conclusão da trama. É difícil de acreditar que o diretor desse filme é Louis Leterrier, o mesmo que dirigiu os excelentes Carga Explosiva e O Incrível Hulk, os dois com ótimos efeitos especiais, sequências de ação bastante criativas e enredos envolventes. Com a provável realização de uma continuação, resta pedir aos deuses que o segundo filme seja muito bom ou nem saia do papel.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Robin Hood


Robin Hood

EUA, Inglaterra , 2010 - 140 min
Épico / Guerra

Direção:
Ridley Scott

Roteiro:
Brian Helgeland, Ethan Reiff, Cyrus Voris

Elenco:
Russell Crowe, Cate Blanchett, Max von Sydow, William Hurt, Mark Strong, Oscar Isaac, Danny Huston, Eileen Atkins, Mark Addy, Matthew Macfadyen, Kevin Durand, Scott Grimes, Alan Doyle, Douglas Hodge

Desde o início do século passado, ainda no cinema mudo, a lenda de Robin Hood tem sido freqüentemente adaptada para as telonas, tendo inclusive uma versão Disney, muito conhecida por copiar cenas de dança de Mogli - O Menino Lobo. Mas desde 1991, quando Kevin Costner vestiu o capuz em Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões, ele tem sido a própria personificação do mito na mente das pessoas. Fugir da sombra desse sucesso e trazer algo novo para uma história repetida centenas de vezes, foram, sem dúvida, os maiores desafios do consagrado diretor Ridley Scott nessa nova empreitada.
A comparação com as antigas adaptações era inevitável, e acabou gerando uma onda negativa de pré-julgamento sobre o filme (do qual foi parte, inclusive, quem vos escreve). Principalmente porque, logo de cara, o que se vê é um Robin Hood (Russell Crowe) de cabelo curto e mais rechonchudo que o idolatrado Kevin Costner. Mas esse é o tipo de filme que não pode ser julgado pelo trailer.
O enredo começa antes das adaptações tradicionais, mostrando a participação de Robin Longstride na Terceira Cruzada, junto ao exército do rei Ricardo Coração de Leão (Danny Huston). Com a morte deste, ele retorna à Inglaterra e lá descobre a opressão causada pelo novo rei, João (Oscar Isaac). Ao lado da viúva Lady Marion (Cate Blanchett), ele lidera o povo do vilarejo de Nottingham e luta contra a tirania reinante no país.
Percebe-se um mudança de abordagem nessa adaptação. Há uma preocupação maior em explicar tudo a quem está assistindo, e mostrar uma história mais verossímil. O enredo é mais fiel à versão mais famosa da lenda, deixando de lado certos traços super-heróicos que o personagem principal adquiriu com o tempo. O Robin Hood de Crowe é um arqueiro muito habilidoso, mas sua grande força está em seu poder de liderança e no seu apurado conhecimento sobre táticas de batalha. O grande diferencial dessa nova adaptação é, justamente, tornar a história mais palpável, mais, digamos, "possível". Apesar disso, e como não podia deixar de ser, pode-se perceber algumas incongruências históricas. Só para ilustrar, na cena final os exércitos de Inglaterra e França estão em contingente muito pequeno, e usam cotas de malha e elmos que eram para poucos na época.
O elenco se apóia em dois nomes de peso, os vencedores do Oscar Russell Crowe e Cate Blanchett. Crowe repete a parceria com Ridley Scott (como em Gladiador e Um Bom Ano) e chega a surpreender na pele do protagonista. Uma surpresa boa, para quem esperava uma atuação apenas regular, sem sal. Mas não, ele se saiu bem, tanto quando exigido dramaticamente, quanto fisicamente, nas cenas de luta, mostrando que o gladiador ainda está em forma. Cate Blanchett vem de excelentes atuações em suas últimas produções, como em O Curioso Caso de Benjamin Button, mas nesta foi apenas regular. Muito culpa do personagem, que não exige muito.
Sem dúvida, o filme é uma boa diversão. Ele tenta conquistar o público logo no início, com boas seqüências de guerra, muita agitação, flachas zunindo e espadas tilintando. Se você não se empolgar com o início, dificilmente irá se empolgar com o restante. Pondo na balança, Robin Hood vale a pena. Apesar da história tão repetida e tão conhecida, a forma como ela é mostrada, mais conveniente com a época em que se passa, dissocia essa nova adaptação das anteriores, e prova não ser inútil, prova que ainda havia algo a ser mostrado. Além disso, o Robin que vemos é diferente do clássico que "rouba dos ricos para dar aos pobres". O foco do novo está mais voltado para a sua liderança e sua capacidade de negociar de igual para igual com os grandes, além de suas habilidades em batalha. Ele é mais humano, menos herói. É bem mais parecido com o homem da Idade Média.
Custando cerca de US$ 155 milhões, Robin Hood teve uma boa arrecadação no mundo, mas nos Estados Unidos deixou um pouco a desejar. A deixa para uma seqüência foi dada, será que vai acontecer? Por enquanto, nada certo. Mas fica o aviso: se for para contar história velha, melhor parar por aqui.

domingo, 16 de maio de 2010

Alice no País as Maravilhas



Alice no País das Maravilhas

Alice in Wonderland
EUA, 2010 - 108 min
Aventura / Fantasia

Direção: Tim Burton

Roteiro: Linda Woolverton

Produção: Tim Burton, Suzanne Todd, Jennifer Todd, Joe Roth

Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham-Carter, Timoty Spall, Michael Sheen, Alan Rickman, Christopher Lee, Anne Hathaway, Crispin Glover, Matt Lucas

Os Estúdios Disney investem cada vez mais alto em filmes live-action (quando os personagens são de carne e osso), deixando de lado o reconhecimento pelo público apenas por suas animações, principalmente depois do sucesso de bilheteria que foi a série cinematográfica Piratas do Caribe (Gore Verbinski). Para realizar o grandioso projeto Alice no País das Maravilhas (já produzido antes pela Disney, só que em animação), o estúdio contratou um velho parceiro, o cineasta Tim Burton (Os Fantasmas se Divertem), conhecido por apresentar ao público histórias sombrias e criativas, sejam elas originais ou adaptadas.
Em Alice no País das Maravilhas, a personagem central, Alice (Mia Wasikowska) já tem 19 anos e está prestes a receber um pedido de noivado. Ao tentar fugir de tal situação ela cai na toca do coelho e vai parar no País das Maravilhas pela segunda vez, sendo que a primeira foi, para Alice, apenas um sonho de sua infância. Desta vez ela tem a missão de destronar a Rainha Vermelha (Helena Bonham-Carter) e acabar com o seu reinado de terror.
Como é possível perceber, o filme de Tim Burton é uma continuação do livro homônimo de Lewis Carrol e, apesar de todo o potencial que a história inédita possa parecer ter, ela não se desenvolve e fica apenas numa chata mediocridade. Todos os personagens criados por Carrol e que marcaram a infância de muitos com animação da década de 50 da Disney estão, modificados ou não, presentes no filme, mas a importância que cada um tem no desenrolar da história modifica muitos aspectos de cada um, tornando, por exemplo, o Coelho Branco (Michael Sheen) quase um figurante e o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) o melhor amigo de Alice e exímio espadachim (modificações das quais ainda vou falar muito). Toda essa liberdade para mudar o criativo e excêntrico universo de Carrol prejudica bastante a qualidade do filme, mas traz algumas características positivas, como a imagem modificada da Rainha Vermelha, interpretada por Helena Bonham-Carter (Harry Potter e o Enigma do Príncipe), para que esta tivesse a cabeça desproporcinalmente maior que seu corpo, é geradora de boas risadas durante o filme.
Helena tem, sem dúvida, a melhor atuação e a melhor personagem do filme. A forma como sua interpretação e sua caracterização se encaixam para formar a Rainha Vermelha é incrível. Outros personagens que podem ser destacados são o Gato (Stephen Fry), a Lebre (Paul Withehouse) e os gêmeos Tweedledee e Tweedledum (Matt Lucas). A atriz central, Mia Wasikowska realiza um trabalho bem feito, mas nada demais, apenas como deveria ser. Em compensação, existem dois personagens que, apesar de seus intérpretes, não se saem nada bem. Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada) interpreta a Rainha Branca, irmã da Rainha Vermelha. Seu jeito comportado e característico da nobreza é exagerado demais, o que torna a qualidade de sua interpretação duvidosa. Mas o maior problema é Johnny Depp (Edward Mãos-de-Tesoura), o queridinho de Tim Burton. Apesar de seus trabalhos fantásticos (não me lembro de ter um motivo sequer para falar mal de sua atuação antes), dessa vez Depp se sai mal, e principalmente por causa de seu personagem, o Chapeleiro Maluco. Como já disse antes, seu personagem deixa de ser coadjuvante para ser, neste filme, o personagem mais importante depois de Alice e é criado todo um drama ao redor da saudade do Chapeleiro pela protagonista desde que esta partiu do País das Maravilhas. Ficou bem claro que o personagem cresceu devido a escolha de Depp para o papel desde antes do lançamento do filme. Afinal, o principal pôster de divulgação estampa o Chapeleiro e os trailers davam destaque ao personagem.
Com todas as falhas, Tim Burton tinha que acertar em algo. E acertou, nos efeito especiais. Bem ao estilo do diretor, computação gráfica e fotografia se combinam muito bem. O mais incrível são as diferentes alturas que os personagens possuem sem impedir um alto nível de interatividade entre eles. As cenas que incluem os sapos da corte também são incríveis.
Indo contra toda a sua carreira, Tim Burton realiza um filme mediano onde o enredo é o que há de menos importante e de mais chato, apesar da grande espera do público. Se percebe as influências de Burton nos cenários e na caracterização dos personagens, mas pára por aí, e Alice no País das Maravilhas se torna o sexto filme a arrecadar mais de 1 bilhão de dólares de bilheteria, e o único dos seis que não merece toda essa atenção.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Homem de Ferro 2


Homem de Ferro 2

Iron Man 2
EUA , 2010 - 124 min.
Ação

Direção:
Jon Favreau

Roteiro:
Justin Theroux

Elenco:
Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Don Cheadle, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Mickey Rourke, Samuel L. Jackson, Clark Gregg, John Slattery, Garry Shandling, Paul Bettany, Leslie Bibb

Em 2001, junto com o novo milênio, teve início também uma nova era para as adaptações cinematográficas dos super-heróis dos quadrinhos. Começaram a ficar para trás os trajes carnavalescos, os cenários irreais ao extremo e os enredos sem pé nem cabeça (vide os Batmans de Joel Schumacher). Não é que os filmes tenham ficado perfeitamente fiéis à nossa realidade, o que seria uma chatice. Mas parece que os produtores, diretores e roteiristas perceberam que o público não era burro, e passava a pedir algo mais. Homem-Aranha veio primeiro, trazendo outros dois filmes, formando juntos a melhor seqüência de adaptações dos quadrinhos para o cinema. Roupas mais fiéis às HQs, personagens mais fortes, cenários mais reais, enredo mais coerente e relevante. Era como se só aí os realizadores tivessem se dado ao trabalho de realmente ler os quadrinhos que deram origem aos filmes. Isso tudo sem deixar de arrecadar milhões nas bilheterias. Feliz o diretor, feliz o estúdio e felizes os fãs. Porém, esses devem ter ficado bem tristes com a notícia do fim da série de filmes do aracnídeo com Sam Raimi, Tobey Maguire e companhia. Mas ele deixou um herdeiro que promete seguir seus passos.

O primeiro filme do Homem de Ferro, de 2008, deixou todo mundo empolgado com seu excelente misto de ação, drama e comédia, e fez com que sua seqüência fosse um dos filmes mais aguardados de 2010. Pode-se dizer que valeu a pena esperar. Nesse novo filme, Tony Stark (Robert Downey Jr.) tem de lidar com as conseqüências de haver revelado ser o Homem de Ferro. Ele passa por sérios problemas de saúde decorrentes da armadura, e se vê diante de um novo vilão, Ivan Vanko (Mickey Rourke), antigo conhecido seu pai, aliado a Justin Hammer (Sam Rockwell), concorrente das empresas Stark. Ao seu lado, ele conta com a sempre fiel secretária Virgínia "Pepper" Potts (Gwyneth Paltrow), o melhor amigo James Rhodes (Don Cheadle), que agora é seu parceiro Máquina de Combate, além do líder da S.H.I.E.L.D. Nick Fury (Samuel L. Jackson), e da agente Natasha Romanov, a Viúva Negra (Scarlett Johansson).

O clima do primeiro filme é mantido nesse. É como se tivessem feito um só filme, e optado por dividí-lo, característica essa presente nas boas seqüências, como em Homem-Aranha 2 e Batman - O Cavaleiro das Trevas. Mas essa é, sem dúvida, a parte com mais ação. O ritmo é alucinante do início ao fim, com muitas explosões e combates de tirar o fôlego, com destaque para a Viúva Negra e sua técnica (o que é aquilo?!), uma das melhores cenas de luta no estilo vinte contra um. Nada disso seria possível, é claro, sem os irreparáveis efeitos visuais, que são indispensáveis e presentes a todo momento, como não podia deixar de ser.

Diferentemente de outros filmes de super-heróis, que trazem uma grande carga dramática, Homem de Ferro é mais ameno. Apesar de ter sua dose de drama, acaba puxando mais para comédia. Isso se deve muito à atuação de Robert Downey Jr., muito solto em cena e cômico como sempre, no seu melhor estilo, fazendo o que não conseguiu em Sherlock Holmes. Seus diálogos saem tão naturais, principalmente com Gwyneth Paltrow e Don Cheadle, com os quais demonstrou excelente química, que em certos momentos parecem estar improvisando, tanto que um atropela a fala do outro, falam ao mesmo tempo, o que é simplesmente perfeito (exceto para os pobres legendadores brasileiros, que de nada têm culpa se não é possível colocar todas as legendas na tela ao mesmo tempo). Ressalte-se que o ótimo ator Don Cheadle está muito bem como James Rhodes/Máquina de Combate, mostrando que Terrence Howard não vai deixar saudades.

Não se pode deixar de destacar o roteiro. Escrito por Justin Theroux, ele traz acontecimentos importantes para o seguimento da série, não permitindo que esse fosse uma daquelas seqüências irrelevantes lançadas só para faturar (Resident Evil 3 veste bem a carapuça). Personagens mais discretos no primeiro filme, ganham importência nesse, como o motorista Happy Hogan (o próprio diretor, Jon Favreau) e Nick Fury, líder da S.H.I.E.L.D. De certa maneira, é um roteiro complexo, visto ter que associar-se aos projetos paralelos da Marvel, como Os Vingadores e Thor.

Um dos personagens de quadrinhos mais adorados nos EUA, aqui no Brasil o Homem de Ferro ainda era deixado de lado antes do lançamento do primeiro filme. Uma grande prova da força dessa marca, é como ele virou febre aqui, apenas dois anos depois. A Marvel promete que esse é só o começo, pois já botou a mão na massa para fazer Thor, Capitão América, e um projeto mais grandioso, que seria único na história das adaptações cinematográficas de HQs: Os Vingadores. Ao contrário da DC, a Marvel mostra muita força de vontade para ter seus maiores personagens reunidos na tela do cinema. Se acrescentar a isso o capricho que teve em realizar Homem de Ferro 2, sorte a nossa.

sábado, 10 de abril de 2010

Chico Xavier



Chico Xavier

Chico Xavier
Brasil, 2010 - 125 min
Drama

Direção: Daniel Filho

Roteiro: Marcos Bernstein

Produção: Daniel Filho

Elenco: Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Matheus Costa, Christiane Torloni, Tony Ramos, Letícia Sabatella, Pedro Paulo Rangel, Giulia Gam, Cássia Kiss, Cássio Gabus Mendes, André Dias, Paulo Goulart, Luís Melo

Adorado pelo público brasileiro, o cineasta Daniel Filho (Se Eu Fosse Você 2) está no auge de sua carreira. Ninguém melhor do que ele para receber o desafio de dirigir e produzir a cinebiografia Chico Xavier, filme que é lançado no ano de centenário do grande médium. É muita responsabilidade, principalmente para escolher a abordagem do filme, devido a curiosidade dos espectadores e a todos os tabus que envolvem o espiritismo.
Durante o filme, acompanhamos Chico Xavier de duas formas intercaladas: quando o médium foi convidado a participar do programa Pinga-Fogo da TV Tupi do dia 28 de julho de 1971 - edição esta que foi um marco na televisão brasileira devido a toda a polêmica envolvida; e desde sua infância, quando não sabia o que eram os casos estranhos e sobrenaturais que lhe rondavam, até a sua fase adulta, quando fundou o seu primeiro Centro Espírita. Junto com a parte mais atual da história, nos é apresentado o drama de um casal que teve seu filho supostamente assassinado pelo melhor amigo, mas este jura que foi um acidente.
Chico Xavier é uma adaptação de As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior. Como já foi dito antes, a história vai e volta, cronologicamente falando. Mérito para o roteirista, que consegue realizá-lo de forma clara e sem enrolações. O roteiro também honra o texto inicial do filme, que informa que foram escolhidos os momentos mais importantes de Francisco para serem mostrados, pois seria impossível mostrar tudo que era importante. A escolha das passagens é perfeita, com as dosagens corretas de drama e humor, tudo com grande compromisso para com a realidade, o que pode ser comprovado no créditos, quando imagens reais do programa Pinga-Fogo são exibidas.
A escolha de elenco não poderia ser melhor. Matheus Costa (Muito Gelo e Dois Dedos D'Água), Ângelo Antônio (2 Filhos de Francisco) e Nelson Xavier (Narradores de Javé) interpetam Chico na infância, fase adulta e terceira idade (ou quase isso), respectivamente. Todos três fazem um trabalho excelente, com destaque para os dois últimos, que conseguem adquirir uma semelhança muito grande com o personagem no modo de agir. Sem dúvida, Ângelo Antônio foi quem ficou com o maior desafio que, sem dúvida, foi superado: conseguir fazer uma grande interpretação do médium, mesmo sem possuir semelhanças físicas consideráveis. O contrário ocorre com Nelson Xavier, que tem aparência, voz e presença que se confundem com Cândido Xavier quando o ator está interpretando o personagem. O intéprete hesitou em aceitar a proposta de atuar no filme por um tempo, devido à sua crença agnóstica, mas acabou entrando no projeto, e sempre se emociona quando se toca no assunto, pois diz que o filme mudou totalmente a sua visão de Deus.
No outro núcleo do filme, temos Tony Ramos (Se Eu Fosse Você 2) e Christiane Torloni (Onde Andará Dulce Veiga?) que, como sempre, fizeram uma interpretação belíssima. Uma das cenas mais marcantes do filme é realizada pelos dois, onde seus personagens leem uma psicografia do próprio Chico Xavier.
Grande parte do mérito do filme vai para o diretor e produtor do filme Daniel Filho, que sempre agradou ao público, mas só com seus últimos projetos tem conseguido "amansar" a crítica. Além da qualidade de grande parte de seus filmes, a quantidade de produções em que Daniel Filho está e esteve envolvido é incomparável, a nível de Brasil. Com Chico Xavier, o diretor mostrou de que modo devem ser mostrados ao públicos temas polêmicos como religião: de forma imparcial. O espiritismo não se torna, em nenhum momento, o centro do filme. Tudo o que observamos é mostrado através da visão e dos relatos do próprio Chico e de fatos, ou seja, verdades. O saudoso Francisco Cândido Xavier apresentado é, antes de médium e espírita, um homem dedicado à compaixão e à caridade.
Chico Xavier é tudo aquilo que Lula - O Filho do Brasil deveria ter sido e não foi: um sucesso de bilheteria, uma obra cinematográfica com uma excelente qualidade técnica, uma história apresentada de forma aberta, fiel à realidade e um grande acréscimo ao cinema brasileiro.
Com o centenário de Chico Xavier, podemos esperar para 2010 mais uma aparição de Nelson Xavier como Cândido no cearense As Mães de Chico Xavier (Glauber Rocha) e mais uma superprodução brasileira e espírita, Nosso Lar (Wagner de Assis). Para os curiosos e simpatizantes, resta torcer e esperar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Lembranças


Lembranças

Remember Me
EUA , 2010 - 113
Drama / Romance

Direção:
Allen Coulter

Roteiro:
Will Fetters

Elenco:
Robert Pattinson, Pierce Brosnan, Emilie de Ravin, Chris Cooper, Lena Olin, Martha Plimpton

Os dramas românticos nos últimos tempos têm ficado repetitivos demais, a ponto de muitos nem mais incluírem esse gênero como uma possibilidade em suas idas ao cinema. Contamos nos dedos os filmes desse tipo que realmente trouxeram algo de novo ultimamente, como Um Amor Para Recordar e P.S. Eu Te Amo.

Lembranças trouxe como grande estandarte atrativo o astro da Saga Crepúsculo e queridinho das adolescentes Robert Pattinson. Isso levou várias garotinhas histéricas ao cinema, mas também espantou vários marmanjos que não queriam ver o vampiro Edward em ação. Bem, os que se arriscaram nesta tarefa tiveram uma boa surpresa.

O enredo é focado em dois personagens principais e suas famílias problemáticas, e como seus destinos acabam se encontrando. Tyler Hawkings (Robert Pattinson) é um jovem de uma família de classe alta, mas que saiu de casa após o suicídio de seu irmão mais velho, e desde então mantém uma relação difícil com seu pai, Charles (Pierce Brosnan). Tyler acaba se envolvendo em uma confusão com um policial, Neil Craig (Chris Cooper), e vai preso. Mais tarde ele descobre que uma garota da sua faculdade, Ally (Emilie de Ravin) é filha de Neil, e é convencido por um amigo que chamá-la para sair seria a melhor maneira de se entender com o policial. Assim acontece, e eles começam a se conhecer melhor e acabam se apaixonando. Mas essa relação é posta em jogo quando Neil descobre com quem sua filha está saindo.

A sinopse pode fazer transparecer mais um clichê romântico, mas não é bem assim. Os problemas familiares são bem mais intensos no filme que a própria história de amor. É como se esta fosse só um chamariz para se discutir questões bem mais relevantes. Vemos duas estruturas familiares bem diferentes, mas problemas bem semelhantes, guardadas as devidas singularidades. Ally viu sua mãe ser assassinada, e depois disso nunca conseguiu ser próxima de seu pai. Tyler culpa seu pai pelo suicídio de seu irmão, que era seu melhor amigo. A relação dos dois se resume a acusações recíprocas e discussões freqüentes, além de uma extrema dificuldade de expressar seus sentimentos e até de se comunicar mesmo.

Olhando os nomes no elenco antes da sessão, só o nome de Emilie de Ravin me animou. Velha conhecida dos fãs de Lost, a australiana provou seu talento nas telonas também. Quanto a Robert Pattinson e Pierce Brosnan, bem, digamos que nunca fui muito fã dos dois. Mas eles se saem bem tentando escapar de seus estereotipados personagens Edward e James Bond, respectivamente. Pattinson ainda lembra muito o tal vampiro em determinadas cenas, mas nesse filme pôde provar que tem capacidade para fazer mais do que demonstrou em suas óbvias e enfadonhas cenas na saga vampiresca. Ele e Brosnan são postos à prova em uma intensa cena, no melhor estilo "lavação de roupa suja" entre pai e filho. Vale também destacar a atuação do talentoso Chris Cooper, que já havia participado de filmes como Tempo de Matar e Beleza Americana.

Esse é apenas o segundo filme dirigido por Allen Coulter (Hollywoodland - Bastidores da Fama), que dirigiu vários episódios de seriados americanos, como A Família Soprano e Sex and the City. O filme também conta com Robert Pattinson como produtor executivo, além de protagonista.

Para aqueles que ainda não desistiram do gênero drama/romance no cinema, não deixem de conferir Lembranças. É um filme muito bom, por mais que todos os elementos façam essa possibilidade parecer remota. Surpreendente do início ao fim, mas principalmente no fim. Aguardem e confiem.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sherlock Holmes



Sherlock Holmes
Sherlock Holmes
EUA/Inglaterra, 2010 - 128 min
Ação/Aventura/Mistério/Policial

Direção: Guy Ritchie

Roteiro: Michael Robert Johnson, Anthony Peckham, Simon Kinberg

Produção: Lionel Wigran, Susan Downey, Joel Silver, Dan Lin

Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong, Eddie Marsan, Kelly Reilly

Seguindo a forte tendência atual das adaptações cinematográficas modernizadas de livros, quadrinhos, séries e até mesmo de obras cinematográficas, chega aos cinemas Sherlock Holmes.
Na história, quando Lorde Blackwood (Mark Strong) ressuscita depois de ter sido condenado à morte devido aos seus rituais satanistas e de magia negra, o detetive Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) e seu fiel amigo Dr. Watson (Jude Law) assumem o caso, o último da parceria, por decisão de Watson. Além de ter de salvar a Inglaterra dos planos de Blackwood, Holmes recebe a visita inusitada de uma antiga rival, Irene Adler (Rachel McAdams).
Como já disse, o filme é bastante moderno, apesar de se passar no século XIX, o que não obrigatoriamente é ruim. O problema é que o roteiro se preocupa tanto em se diferenciar de tudo que já se viu de Sherlock Holmes que acaba exagerando e esquecendo o enredo, os diálogos, o roteiro de uma forma geral. São várias as conversações desnecessárias, cenas totalmente dispensáveis e piadas forçadas.
Quanto as piadas, existem algumas muito boas, mas não espere muitas mais do que as que se vê nos trailers. Fora isso, são tantas cenas de ação, recheadas de grandes explosões e destruições, que muitos podem confundir com algum filme de Jason Statham.
O enredo tem um bom argumento, mas que quando desenvolvido deixa muitas pontas da história soltas, fora que Guy Ritchie (Rockn'Rolla - A Grande Roubada) não pareceu ligar muito para o desenrolar da história. Ele só queria modernizar. Descaracterizar, na minha opinião.
Descaracterizar, pois não vemos Holmes nem muito menos Watson nas telas. Tudo bem que Sherlock é ótimo boxeador, mas isso não significa que ele vá passar a película quase inteira batendo em capangas. Dr. Watson se torna a dupla do detetive nas brigas e o amigo fiel que aguenta as loucuras do outro. Não é preciso muito para notar o quanto isso lembra outros dois personagens, Tony Stark e James Rhodes, sendo estes da outra franquia de sucesso de Robert Downey Jr. (Zodíaco), o grande sucesso Homem de Ferro.
A modernização está presente em muitos aspectos, inclusive na fotografia escurecida, que dá um aspecto sombrio e industrial à cidade de Londres. Em compensação, há momentos em que não se consegue entender o que está acontecendo em cena, devido à excessiva falta de luz Os efeitos visuais são medianos, bem ao estilo Harry Potter e a Ordem da Fênix.
O elenco tem vários nomes já marcantes, mas de uma geração nova. Robert Downey Jr. faz um personagem ao qual já está acostumado a interpretar, com exceção do sotaque, em filmes como Zodíaco e Homem de Ferro, como já foi dito antes. A atuação de Jude Law mal pode ser analisada, pois Dr. Watson se torna, neste filme, um personagem bem "feijão-com-arroz". Mark Strong faz um vilão muito fraco, não por não ser um bom intérprete, mas sim por Blackwood ir perdendo seu caráter intimidador, fora que as explicações para seus atos e para como conseguiu realizá-los são vagas e forçadas. Talvez a personagem mais relevante seja Irene, interpretada pela ótima atriz Rachel McAdams (Voo Noturno), que é responsável pela maioria das poucas situações realmente engraçadas do filme.
Apesar de todos os defeitos, Sherlock Holmes atingiu a sua meta: ganhar dinheiro. O filme arrecadou, só nos EUA, mais de 200 milhões de dólares, tendo gasto apenas 90 milhões de dólares. Somente na estreia, que aconteceu no dia de Natal do ano passado, o filme de Guy Ritchie faturou 25 milhões de dólares (cerca de 44 milhões de reais).
Falho por toda a sua ganância, a mais nova aventura de Holmes apresenta apenas dois aspectos positivos: a possibilidade de se ver dentro da mente de Sherlock e uma boa deixa para uma sequência, o que não chega nem perto de compensar todo o resto.
Pagar para assistir Sherlock Holmes só não é uma total perda de dinheiro e tempo devido ao seu pouquíssimo, mas existente, quesito diversão.

 
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