segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada

Por Juliano Gadelha


As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada

The Chronicles of Narnia: The Voyage of the Dawn Treader

EUA , 2010 - 115 minutos
Aventura / Fantasia

Direção:
Michael Apted

Roteiro:
Christopher Markus, Stephen McFeely, Michael Petroni

Elenco:
Georgie Henley, Skandar Keynes, Ben Barnes, Will Poulter, Gary Sweet, Terry Norris, Bille Brown


A adaptação da obra literária de C.S. Lewis, As Crônicas de Nárnia, para o cinema, teve início em 2005, com toda a pompa dos estúdios Disney, e veio prometendo formar um páreo duro com Harry Potter. Mas O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, apesar de ir bem nas bilheterias, não impressionou a crítica. A sequência, Príncipe Caspian, melhorou a parte técnica e acrescentou ação à saga, mas fracassou nas bilheterias. Depois disso, a Disney desistiu de Nárnia, e a franquia passou para as mãos da 20th Century Fox. Ora, se a toda poderosa Disney falhou na tentativa de tornar As Crônicas de Nárnia uma grande saga cinematográfica, quem mais conseguiria? Quem melhor do que a Disney para criar clássicos infato-juvenis? E foi assim, desacreditado, aos trancos e barrancos, que o terceiro filme sobre a terra mágica de Nárnia, A Viagem do Peregrino da Alvorada, surpreendeu a todos.
Um ano após voltarem a Londres depois de sua última aventura em Nárnia, os irmãos Pevensie estão separados. Pedro (William Moseley) e Susana (Anna Popplewell) estão com os pais nos Estados Unidos, e Lúcia (Georgie Henley) e Edmundo (Skandar Keynes) ficaram na Inglaterra na casa dos tios, tendo de aguentar seu insuportável primo, Eustáquio Mísero (Will Poulter). Na casa eles encontram um quadro que retrata um navio em alto mar, e que os faz lembrar de Nárnia. Quando menos esperam, eles acabam arrastados para dentro do quadro, e logo descobrem que estão de volta a Nárnia, pois são resgatados pelo mencionado navio, onde encontram Caspian, agora rei Caspian X (Ben Barnes). Ele está em missão para resgatar sete fidalgos que eram amigos de seu pai, e que foram banidos pelo seu tio usurpador, o rei Miraz. Para isso, eles têm de navegar pelos mares desconhecidos do oriente e enfretar perigos inimagináveis. Além disso, eles (principalmente o rato Ripchip) nutrem a esperança de encontrar o país do poderoso Aslam (voz de Liam Neeson) no extremo oriente, o fim do mundo.
O filme conta com um bom roteiro. Várias mudanças foram feitas em relação ao livro, e foram muito positivas. Os livros de C.S. Lewis não trazem elementos suficientes para um roteiro, então muita coisa tem que ser acrescentada para tornar a adaptação viável. Os filmes anteriores também tiveram de mudar muito em relação aos respectivos livros, mas não obtiveram o mesmo sucesso que esse. Se nos outros os fãs chiaram bastante com as mudanças, nesse não há do que reclamar, pois conseguiram transformar um dos livros menos empolgantes de Lewis no melhor filme da franquia até agora.
Os efeitos visuais são parte importante do filme. Eles estão ainda melhores que em Príncipe Caspian, no qual já eram excelentes. A diferença é que esse filme exige mais. O barco, as criaturas mágicas, os tontópodes, os cenários paradisíacos, e o grande leão Aslam (cada vez mais realista), está tudo impecável. Só o dragão ficou um pouco abaixo do esperado, mais na parte conceitual do que estética, mas nada que comprometa o resultado final. A contribuição da direção de arte é providencial para esse resultado. O figurino, a maquiagem e os cenários dão a tônica do épico e do fantástico.
Até as atuações melhoraram. Para começar, William Moseley e Anna Popplewell, os irmãos mais velhos, quase não aparecem. E não deixam saudades. Sobra mais espaço para Georgie Henley, que vai melhorando à medida em que vai crescendo, e Skandar Keynes, o mais talentoso dos quatro. Ben Barnes, que já havia interpretado de maneira vacilante o príncipe Caspian no filme anterior, aparentemente amadureceu junto com o personagem (agora rei), pois está bem mais seguro no papel. Will Poulter foi a feliz escolha para o papel de Eustáquio. Ele é a cara do personagem. Só de olhar, dá para ver nele aquele menino mimado, arrogante e chato. Fiquemos de olho nele, pois ele deve voltar no próximo filme.
A Viagem do Peregrino da Alvorada é uma boa surpresa. Para quem já não esperava mais nada de Nárnia no cinema, eis a prova em contrário. O filme tem um bom enredo, personagens razoavelmente cativantes e criaturas e cenários de encher os olhos. Tem boas cenas de ação e é divertido de se ver. Mas ainda há detalhes que faltam à franquia. Primeiramente, em nenhum dos três filmes há uma cena realmente emocionante, como há vários filmes do mesmo gênero. Isso é uma carência da própria obra de Lewis, mas para uma adaptação cinematográfica desse tipo se faz necessário acrescentar um teor mais dramático, que mexa com o espectador e que o faça se afeiçoar e se identificar com os personagens. Daí surge um segundo problema, que é justamente o fato de os personagens serem desconhecidos pelo grande público. Por exemplo, todo mundo sabe quem são Harry, Rony e Hermione, e Gandalf e Frodo; mas quem sabe quem são os irmãos Pevensie ou Aslam? Muito poucos. Acaba que só quem leu os livros realmente conhece os personagens. E isso prejudica o desempenho do filme, pois quando o público se identifica com o personagem, vira receita garantida para o filme. E isso tem muito a ver com o carisma dos personagens e com o desempenho dos atores.
Apesar disso, o filme liderou durante várias semanas as bilheterias dos Estados Unidos e de vários países, inclusive do Brasil. A Fox deu declarações de estar satisfeita com o resultado do filme, o que indica que é provável que haja sequência. Ironicamente, vamos torcer para que seja mais Fox e menos Disney.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Tron - O Legado

Por Juliano Gadelha


Tron: O Legado

Tron Legacy
EUA , 2010 - 125 min.
Ficção científica

Direção:
Joseph Kosinski

Roteiro:
Edward Kitsis, Adam Horowitz

Elenco:
Jeff Bridges, Garrett Hedlund, Olivia Wilde, Bruce Boxleitner, James Frain, Beau Garrett, Michael Sheen, Anis Cheurfa, Serinda Swan, Yaya DaCosta, Elizabeth Mathis, Kis Yurij, Conrad Coates, Daft Punk


No fim dos anos 70, Steven Lisberger tentou vender sua ideia inusitada de um filme live-action com elementos de computação gráfica a vários estúdios, até que obteve sucesso com a Disney, cujo próprio criador tinha como lema superar limites e pensar à frente de seu tempo. Tron foi lançado em 1982, e abriu caminho para a computação gráfica no cinema, que inunda os filmes atualmente. Mas a tecnologia limitada da época, cerceou em parte a repercussão do filme entre os espectadores mais novos. Para dar ao mundo de Tron a roupagem do século XXI e fazer jus à obra original, a Disney produziu Tron: O Legado.
Nessa sequência, conhecemos Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho de Kevin Flynn (Jeff Bridges), que está sumido há mais 21 anos. Assim como seu pai, Sam é muito talentoso com computadores, e vive pregando peças na diretoria da ENCOM. Alan Bradley (Bruce Boxleitner), antigo amigo de Kevin Flynn, recebe um bipe vindo do velho arcade de Flynn. Sam decide investigar e acaba entrando no mundo virtual em que seu pai vinha trabalhando quando desapareceu.
O primeiro Tron recebeu e ainda recebe duras críticas pelo enredo. A sequencia não é muito melhor nesse quesito. A verdade é que o grande atrativo é ver o mundo virtual criado por Lisberger em 1982 com o melhor da tecnologia que temos hoje. Nesse ponto o filme não deixa a desejar. São cenas belíssimas de computação gráfica, e a tecnologia 3D se encaixou perfeitamente e coopera bastante. É um dos filmes que melhor soube usar o 3D até agora.
Merece destaque a construção do personagem CLU, que é nada mais do que Jeff Bridges vinte e poucos anos mais novo. A tecnologia é semelhante à usada em O Curioso Caso de Benjamin Button para que Brad Pitt parecesse mais jovem. Mas é óbvio que, comparado a Brad Pitt, Jeff Bridges exigiu mais trabalho dos profissionais. Além disso, CLU não é um coadjuvante, ele aparece muito, e interage bastante com os outros personagens, o que torna a utilização dessa tecnologia ainda mais complicada.
As atuações não mercem destaque. É claro que ver um ator consagrado e talentoso com Jeff Bridges é sempre muito agradável. E ele trabalhou bastante nesse filme. Mas de resto, não há muito para se falar. O protagonista, Garrett Hedlund, é apenas razoável, e seu personagem é meio sem sal. O mesmo vale para Olivia Wilde, a Quorra. Quem passou um pouco do ponto foi Michael Sheen. É um ótimo ator, já provou isso em outros filmes, mas exagerou demais na extravagância de seu personagem, o Castor.
Mas não tem como assistir o filme e não prestar atenção á trilha sonora. A música eletrônica da dupla francesa Daft Punk rouba a cena nas principais seqüências de ação. Eles até mesmo participam do filme. São os programas responsáveis pela música na boate do Castor, os DJs da festa.
Tron: O Legado é válido como uma experiência tecnológica, trazendo elementos que o primeiro filme era incapaz de trazer na época. Apesar de aprofundar um pouco o enredo em relação ao original, o roteiro parece um pouco sem rumo, meio perdido, sem objetivo, confuso. O filme tenta satisfazer o espectador com as cenas de ação e com um mundo virtual de encher os olhos. Como disse, foi uma experiência válida. Mas para que haja uma terceiro filme (o que provavelmente vai acontecer) é necessário trazer algo de novo à franquia, algo diferente, que atraia as pessoas ao cinema. Isso implica também trabalhar em um roteiro de qualidade, com uma história mais concatenada. Do contrário, um possível Tron 3 seria apenas um atraso cinematográfico.

 
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